BERILO

ENTREVISTAS

Maria Lopes de Oliveira - conhecida em Berilo como Dona Pretinha, tem 75 anos e é uma das artesãs mais antigas e conhecidas da região. Ela começou a tecer aos dez anos de idade. Aprendeu sozinha, de tanto ver a mãe trabalhar no tear. A mãe, por sinal, era uma excelente artesã e criou os filhos com os cobertores que fazia e vendia, dia a dia. O grande zelo que a mãe tinha com o seu tear fez com que Dona Pretinha só se atrevesse a criar sua primeira peça, às escondidas, num dia em que estava sozinha em casa. A mãe saiu para vender os cobertores e ela aproveitou a brecha. Ao chegar, a mãe percebeu que alguém havia mexido no artefato. Com medo de que outra pessoa apanhasse em seu lugar, Dona Pretinha revelou que era a responsável por tal estripulia. Para sua surpresa e profunda emoção, no lugar de muitas palmadas, a mãe deu à menina o seu maior presente: o primeiro abraço em todos aqueles 10 anos. E uma incumbência: a partir daquele instante, tamanho era o talento de Pretinha, esta seria sua substituta e a provedora da família, dado que a mãe, adoecida, já não conseguia mais tecer o suficiente. Nesse dia, a casa encheu de gente para conhecer a mais nova artista da família.

 

LEIA MAIS AQUI

Sanete Esteves de Sousa - Nascida e criada na comunidade de Mocó dos Pretos, Sanete Esteves de Souza, ex-diretora da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais, traz muitas lembranças de quando era criança. Tempo em que as famílias sentavam na porta das casas, em noite de lua cheia, e trocavam versos de uma casa a outra ao som de instrumentos tocados por pais e tios, numa verdadeira comunhão entre vizinhos. “Hoje tem a televisão, e quando a gente fala de fazer alguma coisa parecida, as pessoas respondem, ‘está na hora da minha novela’. É novela da tarde, novela da noite, e ninguém mais faz nada”, recorda.

Combativa, trabalha arduamente para a manutenção da cultura e valorização da questão quilombola. Atua diretamente nas diversas associações do município e reconhece que as certificações ajudam no reconhecimento, autoestima e manutenção cultural do município. “Os certificados estão ajudando no resgate e manutenção da cultura local, porque é feito um trabalho de conscientização. Tínhamos a consciência da riqueza cultural deixada de pai para filho, mas não a consciência de que tudo isso era de nossos antepassados e com tanto sacrifício, como foi com os quilombolas”, pontua. Estima-se que na região existam 14 mil habitantes que se reconhecem como remanescentes de escravos.

 

LEIA MAIS AQUI

Maria das Graças Nunes de Souza - Maria das Graças, de 64 anos, é uma das quilombolas de Berilo conhecida por dançar congado como ninguém. É ela quem carrega na cabeça uma das garrafas que caracterizam essa dança e reproduz o movimento que os escravos faziam ao dançar: eles enchiam a moringa de água e colocavam na cabeça. Se viesse a sede na hora da dança, podiam beber ou oferecer aos companheiros sem ter que sair da roda. Com memória das histórias contadas pelos pais, ela sabe que seus ancestrais, escravos, sofreram muito ali na comunidade de Relâmpago, nome advindo dos relâmpagos que os moradores dali assistiam enquanto lavavam areia na bateia para procurar ouro. Maria das Graças é neta de Maria Moreira Lopes e Mereciano, ambos descendentes de escravos. O pai dela contava que a avó vivia num casarão chamado senzala.

 

LEIA MAIS AQUI

Alessandro Borges Araújo  - Com essa ideia na cabeça e muita força de vontade nas mãos, Alessandro Borges Araújo, de 27 anos, agente cultural da cidade de Berilo e presidente da Coquivale, Comissão das Comunidades Quilombolas do Médio Jequitinhonha, se empenha na preservação e manutenção da cultura local como um guerreiro contemporâneo. Diretamente envolvido com todas as manifestações culturais, sociais e políticas do município, atua diretamente em pelo menos dois dos principais ícones da cidade, o Casarão Domingos de Abreu Vieira e a Igreja Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade.

O Casarão, que foi palco de reuniões dos chamados “inconfidentes”, com a presença do próprio Tiradentes, é hoje importante núcleo para valorização da cultura quilombola da região. Tombado pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), em 2010 recebeu uma importante reforma em sua estrutura, embora seu funcionamento dependa da boa vontade de políticas locais. Entre outras manifestações, abriga ali a sede do congado local e da Folia de Reis, mas suas funções poderiam ir bem além. “Acredito que o Casarão poderia se tornar um centro de ofícios para jovens e crianças. Tem tanto artesão morrendo e levando para túmulo tudo que sabe, como artesanato com barro, cerâmica, madeira e couro”, lamenta o jovem quilombola.

Já a igreja de Nossa Senhora da Conceição agoniza a olhos vistos, mesmo tendo sida tombada pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1974. Considerada uma das construções mais antigas de todo o Vale do Jequitinhonha, foi construída em 1729. Nem toda essa imponência histórica tem garantido sua mínima manutenção, e tanto sua estrutura como seu acervo se deterioram sem dó nem piedade. “Para mim, essa igreja aqui conta a história do município, imagina só quanta coisa já se passaram debaixo dela?”, indaga.

 

LEIA MAIS AQUI

Cesário de Souza e Teonília Moreira Vieira  - Dona Teonília e seu Cesário, da comunidade do Brejo, em Berilo, são do tempo do pilão para socar o milho, da procura do ouro mexendo na bateia, quando as águas ainda eram abundantes. Das festas de Santa Cruz, muito centrada nas tradições, só com bolo de folha e café, das rodas de viola ondem todos jogavam versos a noite toda. São do tempo das parteiras, que trabalhavam horas e horas para um rebento nascer, e dos raizeiros, sábios conhecedores da terra e seus ensinamentos naturais. As mulheres, pioneiras em tudo, principalmente na luta, levavam seus filhos na roça e, deixando-os na sombra de uma moita, juntavam-se a seus maridos para o trabalho pesado da terra. Histórias de um tempo passado na memória dessa gente valente.

 

LEIA MAIS AQUI

André Candido Teixeira  - Cada comunidade quilombola é recheada de histórias centenárias. Vai Lavando não foge disso e preserva com orgulho muitas tradições e lembranças. Nesse relato, quem nos conta um pouco da região é André Candido Teixeira, morador desde nascença de Vai Lavando, assim como seus pais e avós. Andrezinho, como é popularmente conhecido, lembra das danças típicas e manifestações culturais, algumas ainda preservadas, e outras que só encontram lugar na memória.

Ele também relata como os ex-escravos chegaram ali, fugidos da escravidão, e como resistiram à tirania dos homens brancos de então. Acredita-se que a comunidade começou a se formar antes mesmo da libertação dos escravos, em 1888. Relatos dos mais antigos levam os moradores a essa conclusão. Andrezinho exalta a retomada da memória, depois de insistentes trabalhos de conscientização, resgatando manifestações culturais que tinham sido esquecidas, como a Dança do Beira Mar e a Dança do Marinheiro.

 

LEIA MAIS AQUI

Vilma Alves Lopes  - Bastante festejada em várias partes do Brasil, a Folia de Reis se mantém na comunidade de Mocó dos Pretos, próxima ao município de Berilo, muito pela tradição familiar e boa vontade de Vilma Alves Lopes. Ela conta que foi seu avô quem passou a festejar a Folia na comunidade e depois um tio manteve a tradição. Com a morte desse tio, Vilma pegou para si a responsabilidade e hoje em dia a festa abarca cerca de 800 pessoas. Comemorada no dia 6 de janeiro, o congado dá o tom musical sempre regado a comidas da terra, como o feijão tropeiro, arroz, biscoito de fubá e bolo. Segundo Vilma, no tempo de seus avós e tios a variedade era maior, com tutu de feijão e frango caipira, mas a animação e devoção continuam a mesma. Além da própria comunidade, também frequentam a festa pessoas de Alto Caititu, Água Limpa, Muniz, Caititu do Meio e Badaró.

 

LEIA MAIS AQUI

Apoio:

Patrocínio:

Realização: